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Ao Mestre com Carinho
28/01/2017 :: Causos do CFCX #04



O CFCX tem o especial privilégio de continuar convivendo ativamente com muitos de seus sócios fundadores e pioneiros, cujos trabalhos são modelos de talento a todos nós.

Hoje, pedimos licença para render homenagens a um desses garotos em especial, "jovem há mais tempo", o nosso mais experiente e premiado mestre, nosso mais genial menino serelepe...

WALTER BRUGGER, pela passagem de seu 92º aniversário.



Definir WB no espaço desta coluna não é tarefa simples, não mesmo! Especialmente para os visitantes deste site ou para aqueles novos sócios que ainda não conviveram tempo suficiente com o rapaz.

Nascido em 1925, na Áustria, colheu sequelas político/nacionalistas da 1ª guerra mundial e foi, juntamente com sua família, "exportado" para o Brasil aos 5 anos. Aqui, seguiu a profissão do pai e se formou médico. Voltou à Europa para sua especialização e, posteriormente, retornou, enfim, à nossa terrinha.

Ainda menino, seu interesse pela fotografia foi despertado pela mãe, que sempre gostou da arte e a praticava com uma pequena câmera portátil. Mais tarde, durante sua pós graduação no estrangeiro, teve acesso ao Laboratório do Hospital de Clínicas onde estagiava,  no qual adquiriu um conhecimento mais avançado sobre os processos, temperaturas, amplificações e soluções químicas utilizadas nas revelações de imagens. 

De volta ao Brasil, foi trabalhar em um hospital público de Niterói, a uma ponte da cidade do Rio de Janeiro, onde conheceu Gisela, jovem berlinense que migrou com a família para o Brasil após a 2ª guerra. Com histórias e origens semelhantes, logo o casal se apaixonou e a garota tornou-se esposa e a mais bela modelo fotográfico de WB, proporcionando-lhe inúmeras fotos premiadas. O casal teve dois filhos, Verônica e Tomas, ele herdeiro da veia artística do pai, talentoso e premiadíssimo colega de Clube.

Em 1980, quando a família já residia por aqui, Walter Brugger soube da criação do então Clube do Fotógrafo Amador de Caxias do Sul, o nosso CFCX, e imediatamente tratou de ingressar no quadro social da entidade, em 21/11/1980, sob a matrícula nº 017, tornando-se sócio pioneiro e um dos maiores incentivadores do grupo, até hoje.

Se pensarmos que esses atributos da biografia de Walter Brugger, por si só, fazem supor uma pessoa conservadora, austera e metódica, aos moldes germânicos, o equívoco é muito grande! Como o próprio WB esclareceu: "o Vienense é o carioca da Europa, não dá pra comparar com o Alemão..."

De fato, em termos de fotografia, nosso prodigioso guri está (e sempre esteve) muito longe de seu tempo e bem fora do quadrado.

Muito antes do mundo sonhar com fotos digitais, WB já manipulava negativos e deixava a genialidade de sua mente livre para criar imagens espetaculares e surreais, premiadíssimas em diversos concursos nacionais e internacionais, como essas, por exemplo, totalmente analógicas:



Com a transição para o mundo digital, nosso menino não se intimidou e, em 1995, ingressou naturalmente ao novo processo. Foi um dos primeiros fotógrafos do Brasil a aceitar a nova era, escrevendo, a propósito, um artigo sobre o assunto que foi publicado em diversos jornais e circulou por todos os Clubes do Brasil por meio da Confoto.

A manipulação digital deu à mente talentosa de Walter Brugger um mundo infinito de possibilidades. Com seus 70 anos de curiosidade e inquietude, buscou qualificação adicional em Porto Alegre, onde fez um curso de photoshop que lhe permite, até hoje, analisar os objetos banais à sua frente, romper convenções e criar sua própria forma insólita de  representar a vida.  E a criatividade ganhou asas...



Na lição do próprio mestre, "pra ficar inside, tu tens que te interessar"... 

Juventino Dal Bó, em artigo que comentava uma das inúmeras exposições de WB em Caxias do Sul, ao descrever o surrealismo do artista, deu a seguinte definição ao seu trabalho: "Com uma fonte de luz, uma folha de papel sensível, alguns objetos ou situações comuns, banhos de revelação e fixação e, principalmente, habilidade dos cortes e montagens, cria-se um novo universo: o mundo incomum de Walter Brugger".

Dona Gisela, além de eterna e linda namorada, modelo nº 1 de Walter Brugger, parece ter sido também sua maior fã, cúmplice e incentivadora. Foi através da coleção de recortes guardados por ela que obtivemos acesso ao rico material do acervo do mestre, que também está intimamente associado à história do nosso CFCX. Grande parceiro e incentivador do Clube, sempre atrelou seus prêmios ao aprendizado que desenvolvia com os colegas. A cada notícia de jornal, premiação ou catálogo de concurso interclubes, em cada documento, lá estava o nome do Clube vinculado.

Imergindo naquelas pastas, durante um ano inteiro de pesquisa, descobri histórias que precisam ser compartilhadas, quiçá em uma palestra do mestre (vamos articular esta possibilidade, para que ele nos conte o que esteve por trás de cada uma daquelas suas espetaculares fotos premiadas), mas que, para o espaço desta coluna, apenas algumas foram destacadas, como estas:

1) Recebeu o título máximo de "Artista Fotográfico", tanto da CONFOTO (exigência: 10 fotos premiadas em concursos nacionais nos últimos 5 anos anteriores ao pedido)  quanto da FIAP (exigência: título Confoto + 5 fotos premiadas em concursos internacionais nos últimos 10 anos anteriores ao pedido). Em 1992, menos de 12 anos de Clube, já estava apto aos dois títulos, com prêmios em Luxemburgo, Bélgica, Taiwan, China, Portugal, Inglaterra, Alemanha, Japão, Áustria e outros mundo afora, além dos inúmeros nacionais;



2) Com incontáveis certificados das premiações, e para não causar constrangimento entre os associados menos experientes do CFCX, já que costumava vencer com certa habitualidade os concursos internos, registrou em Ata de Assembléia, no final de 1990, que não participaria como concorrente dos desafios de 1991, limitando-se à análise e julgamento das fotos, de modo a fomentar maior participação;

3) Quando estava na presidência do Clube, lutou e conseguiu que a Câmara Municipal aprovasse a Lei nº 3.288, de 11/11/1988, sancionada pelo então prefeito Vitório Trez, que declarou o Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul como Entidade de Utilidade Pública, título importante para que  o CFCX pudesse receber repasses de verbas municipais;

4) Teve foto vencedora furtada no Salão Nacional de Blumenau, em 1995, um concurso apadrinhado pela Confoto, que levou o presidente da Confederação a formalizar escusas expressas pelo ocorrido e sugerir alguma indenização. Satisfeito com o gosto particular do delinquente, WB ponderou em resposta: "vale pra mim o atrevimento, pois o ícone de uma lasciva nua molhando-se com o esguicho de uma mangueira deve ter sido colocado sobre um pedestal a fim de ser venerado pelo esdrúxulo ladrão";



5)  Realizou diversas exposições em Caxias do Sul, algumas solo, muitas em parceria com os colegas do CFCX, mas sempre referindo seu convívio no Clube, com telas incomuns, preferencialmente coloridas, de alta qualidade técnica, despertando comentários entre os visitantes, do tipo: "Este Brugger é genialmente perfeito";

6) Foi o mentor do retorno do CFCX para sua segunda fase, em 2005, após alguns anos em stand by, sendo um grande incentivador da participação dos associados em concursos e responsável por muitos prêmios trazidos pelo coletivo do Clube (os recortes também registram prêmios do Joel Jordani, Geraldo Melo, Schiavo, Aldo e tantos outros sócios pioneiros);

Enfim... não cabe tudo por aqui!

Mas para comemorar os 92 verões coloridos de nosso mestre,  quero compartilhar com os colegas o privilégio que tive, durante todo 2016, de mexer nas pastinhas da dona Gisela, a quem devemos render agradecimentos por guardar tanta história pertinente ao Clube. Para tanto, copiei muitos e muitos documentos, preferencialmente os vinculados ao nosso CFCX, e criei um álbum no flickr chamado "Acervo Walter Brugger", na galeria dos Registros Históricos. Cada arquivo tem um título pertinente ao assunto com o qual se relaciona, convém observar. Tudo o que conto aqui nesta coluna, retirei de lá. Visitem com calma o acervo, posso garantir que será muito prazeroso!

Temos um vídeo, gravado pela TOO Comunicação/Paquito, por ocasião da exposição do mestre, em 2015, no Museu Municipal, chamada "Lições de um Jovem Fotógrafo", da qual Carlos Gandara foi curador. Vale a pena ouvir o Presidente, somente até o final de sua fala.


Em seguida, ouvir Walter Brugger na íntegra, que é simplesmente imperdível.


Obrigada, dona Gisela, pelo cuidado em guardar todo esse acervo pra gente e por confiar suas pastas, por tanto tempo, em minhas mãos! Tentei deixar tudo bem certinho como estava, cada documento em seu lugar, embora lá no álbum do flickr estejam organizados de forma diferente; Obrigada, Tomas, por me subsidiar com as informações biográficas que nos faltavam;



E o que dizer ao querido mestre?

Lições que se aprende com seu convívio? estudo e qualificação permanentes, crença no próprio trabalho, liberdade acima das convenções, amor pelo que se faz, pesquisa, dedicação, análise e reconhecimento ao trabalho alheio, inquietude, curiosidade, acreditar que pode, capacidade de admirar-se, interessar-se pela vida, alegrar-se, enfim... manter-se "inside", como referiu, para poder acompanhar as evoluções do tempo.

Quando li sua carta aberta, escrita em 28/01/2014, comemorando os 89 anos, ou melhor, o primeiro dia de seus 90 (ela também está no álbum), lembro que me emocionei muito e lhe respondi algo assim:

"Quisera eu também manter-me apaixonada e "interessada" pelo bom da vida, para todo o sempre...
Quisera eu que meus olhos fossem suficientes para manter-me encantada pelas coisas que vejo, do jeito que vejo...
Quisera eu ter um tal poder de atração que fosse capaz de ligar à mim pessoas que me encantem e que eu também seja capaz de encantar..."

Eu estava tentando descrever alguns dos "seus" poderes. E a minha resposta continua válida! Porque conviver com o senhor é querer espelhar-se, é gostar de estar junto, é se alegrar, aprender, admirar-se com sua energia, encantar-se com o seu talento e sua mente prodigiosa!

Obrigada pelos dias adoráveis de convívio! Queremos muitos mais!

Obrigada por enriquecer a história do nosso CFCX!

O presente que nos foi possível lhe dar? No mínimo, guardar para sempre, em álbum digital de nosso flickr, os documentos físicos que estavam cuidadosamente colecionados nas pastinhas de sua namorada. E sempre caberão novos registros ou imagens que o mestre queira juntar à coleção. 


Muito Obrigada, querido Mestre!

Parabéns!!! Saúde e Vida Longa, WB!

FELIZ ANIVERSÁRIO!!!

Um forte abraço e um beijo bem carinhoso, meu e de toda a família CFCX!

Mari, 28/01/2017
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